domingo, 17 de outubro de 2010

o samba e o vento



E o propósito disso tudo? Perguntei.

Sem pedir licença (cerimônia é perder tempo, dizia), o olhar dele percorreu os objetos coloridos na estante. Levantou, acendou um cigarro e parou em frente à vista calma da janela lá de casa. Ele, que sempre me ensinou a ter calma, parecia inquieto.

A dúvida basta pra mim. Disse ele. Esse misto de desconforto e liberdade é o que eu sei viver. O incômodo talvez seja mesmo a única prova de que a gente existe, no aqui, no agora.

Vamos almoçar? E me deu aquele sorriso de menino.

Entendi que não era a fome ou as minhas perguntas que o aborreciam, mas o fato de eu querer, sempre, todas as respostas.

Antes de sair, ligou o som e me deixou de presente o disco novo de uma amiga do Rio que já não via há tempos.

E ali ficaram: o samba, o vento, e eu.


Ele, que tanto sabe das coisas, preferiu o mar.


Foto: arquivo pessoal

Um comentário:

Anônimo disse...

Ia te ligar para falar do texto. Mas desliguei o celular antes mesmo da ligação completar. Agora sou eu que preciso de um tempo. Tempo para refletir sobre lindas palavras. Tempo para chorar de emoção. Tempo para me redescobrir sob o olhar do outro. Um brinde aos encontros repletos de silêncio, sorriso e pinta.

Douglas Silveira.