terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Impressões alagoanas


Olham-me com estranheza. Rostos, antes nunca vistos, incomodam-se com a minha suposta solidão. Indecifrável, nauseante – comentam.
Enquanto meus pés deslizam na maré baixa a areia úmida, quebram-me o silêncio com cochichos e mudanças disfarçadas de lugar – constrangimento camuflado, pena. Retribuo com um sorriso. É a minha doação, em agradecimento. (As intenções não devem ser desprezadas. São as melhores, no fundo).

Escolhi retirar-me só. Não por falta de companhia ou tristeza. Quis, apenas. Não tenho justificativas, ruins ou boas. Não as quero ter. Precisava escutar o vento e o mar.

Foto: arquivo pessoal


5 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, Vanvan! Nada de justificativas. Só... vida!
Beijos

Gustavo Jaime disse...

Sou suspeito quando se trata de solidão... e acho que tem nessa vontade de se reconhecer, redescobrir a cada trecho de diálogo silencioso, uma grande beleza terna que só nos faz, não melhores, e sim sabedores de nós. Ou pelo menos próximos disso.

É preciso viver a solidão com graça e carinho, abraçá-la como quem acalenta um amigo, para entender que sempre fomos só - e somos solidões que se enroscam, para citar Drummond.

Adorei texto e foto. Adorei o tema. Adorei escrever este comentário e completar com paz um peito que estava indiferente (o meu, quero dizer) nesta altura da madrugada.

Flautatualf disse...

Excelente. Que orgulho da autenticidade e perspicácia dessa guria! :)

Anônimo disse...

Pezinho bonitinho!

Luey disse...

Olhei-a com deslumbramento. Rosto lindo, antes nunca visto por mim, que transparecia suavidade e delicadeza.
Incomodei-me com sua suposta solidão, pois era assim, solitário, que me sentia antes de mirar seu rosto.
Rosto indecifrável com certeza, mas que encheu meu coração de alegria. Nauseante foi a felicidade de poder falar com ela.
Enquanto seus pés deslizavam na maré baixa e areia molhada, minha boca ficava seca como o deserto e meu coração transbordava como maré alta, de aflição, suplicando um olhar seu.
Um sorriso seu enchia meu dia com uma luz mais deslumbrante que o sol a pino.
Ela escolheu retirar-se sozinha, não por falta de companhia ou tristezas. Apenas quis.
Ela precisava escutar o vento e o mar e eu precisava escutar sua voz e seu sorriso.