terça-feira, 30 de setembro de 2008

Retiro

Estive perto do silêncio,
das pedras lisas do lodo antigo
por onde as águas escorregam densas,
libertas.

Alforriei-me num canto sincopado de beija-flores
pelo simples capricho de não esquecê-los mais
meus iguais.

Senti o cheiro da terra úmida
E dormi.

Acordei ainda sem saber
Do fim.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Desejo

Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Fernando Pessoa

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vida-a-vida III

Têm dias que são de desânimo. O de hoje começou assim. Não saberia dizer os motivos ou enumerar os dissabores. Talvez tenha desaprendido a compartilhar, por tanto já ter tentado e fracassado. Também pode ser apenas cansaço. (Afinal de contas, a pia continua mesmo cheia de louças). Desculpem-me.
O inominável existe.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Desvendando...

"Quiero hacer contigo lo que la primavera hace con los cerezos"
Plabo Neruda

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ar

Porque fugiram-me as vogais
(Foto: Inoka, de Hong Kong)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Avesso

“A mulher fez a ligação, sabia de memória o número do telefone do hospital. O médico identificou-se quando responderam, depois disse rapidamente, Bem, muito obrigado, sem dúvida a telefonista perguntara, Como está, senhor doutor, é o que dizemos quando não queremos dar parte de fraco, dissemos, Bem, e estávamos a morrer, a isto chama o vulgo fazer das tripas coração, fenômeno de conversão visceral que só na espécie humana tem sido observado (...)”. Extraído do livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.
Lembrando: O filme homônimo de Fernando Meirelles estréia nesta sexta-feira (12)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Silêncio...

de quem não encontra os meios para os fins

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Serenata


Pés cruéis fiéis menestréis
Vós que andais o mar
Vós que cantais o ar
Não deixais sucumbir em mim o desejo de o mundo viver

terça-feira, 2 de setembro de 2008

milagre


Sou filha da crítica. E, com olhar desconfiado, observo o mais descompromissado dos passos. Não sei quando comecei, mas é assim que sei ser. Com isso, não habito confortavelmente os espaços de devoção e entrega a deuses que podem tudo prover. A magia não me fascina. Aprendi a ter fé nas coisas simples. Um amanhecer colorido, um abraço apertado ou o sorriso de uma criança podem me fazer ganhar o dia. Só tem uma coisa capaz de abalar o meu duro ceticismo: a incrível e incomparável vontade humana de recomeçar. Isso sim é o verdadeiro milagre. Diário, cotidiano e universal.