E o propósito disso tudo? Perguntei.
Sem pedir licença (cerimônia é perder tempo, dizia), o olhar dele percorreu os objetos coloridos na estante. Levantou, acendou um cigarro e parou em frente à vista calma da janela lá de casa. Ele, que sempre me ensinou a ter calma, parecia inquieto.
A dúvida basta pra mim. Disse ele. Esse misto de desconforto e liberdade é o que eu sei viver. O incômodo talvez seja mesmo a única prova de que a gente existe, no aqui, no agora.
Vamos almoçar? E me deu aquele sorriso de menino.
Entendi que não era a fome ou as minhas perguntas que o aborreciam, mas o fato de eu querer, sempre, todas as respostas.
Antes de sair, ligou o som e me deixou de presente o disco novo de uma amiga do Rio que já não via há tempos.
E ali ficaram: o samba, o vento, e eu.
Ele, que tanto sabe das coisas, preferiu o mar.
Foto: arquivo pessoal
Um comentário:
Ia te ligar para falar do texto. Mas desliguei o celular antes mesmo da ligação completar. Agora sou eu que preciso de um tempo. Tempo para refletir sobre lindas palavras. Tempo para chorar de emoção. Tempo para me redescobrir sob o olhar do outro. Um brinde aos encontros repletos de silêncio, sorriso e pinta.
Douglas Silveira.
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