domingo, 5 de dezembro de 2010
;)
às vezes, a vida surpreende a gente.
foto: Sandrine Strade Boulet (http://www.sandrine-estrade-boulet.com). (obrigatório conferir!)
terça-feira, 19 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
o samba e o vento
E o propósito disso tudo? Perguntei.
Sem pedir licença (cerimônia é perder tempo, dizia), o olhar dele percorreu os objetos coloridos na estante. Levantou, acendou um cigarro e parou em frente à vista calma da janela lá de casa. Ele, que sempre me ensinou a ter calma, parecia inquieto.
A dúvida basta pra mim. Disse ele. Esse misto de desconforto e liberdade é o que eu sei viver. O incômodo talvez seja mesmo a única prova de que a gente existe, no aqui, no agora.
Vamos almoçar? E me deu aquele sorriso de menino.
Entendi que não era a fome ou as minhas perguntas que o aborreciam, mas o fato de eu querer, sempre, todas as respostas.
Antes de sair, ligou o som e me deixou de presente o disco novo de uma amiga do Rio que já não via há tempos.
E ali ficaram: o samba, o vento, e eu.
Ele, que tanto sabe das coisas, preferiu o mar.
Foto: arquivo pessoal
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Conversa de bêbado
Pois já era hora. Urgência eu tinha. Pressa mesmo. As explicações, entretanto, – todas inúteis, preciso destacar – multiplicavam-se como fungo. E não é por falta de conhecimento não. Sei, há anos, que o que é simplesmente é. Por algum motivo, contudo, a necessidade de me justificar toma conta dos poros, sob os olhos exigentes e curiosos dos poucos companheiros de bar. Uma cerveja aqui, outra ali, uma perguntinha aqui, outra ali, e as palavras a flutuar. Rima barata, clichês, porquês e mais um copo. E nada do que expresso e conto é o que eu penso ou sinto. Conversa de bêbado, pois.
E estava aqui a saracotear poetas, quando encontrei quem há de me salvar dessa ressaca da lógica:
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida”.
Álvaro de Campos
Foto: arquivo pessoal. (numa barraca de lona, essa senhora vive há anos em frente à Casa Branca, em Washington. sua vida é um protesto contra a indústria armamentista).
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
acreditar
Porque a vida é tão pequena, no meio desse mundo todo.
E a gente se perde às vezes.
Foto: http://www.you-are-beautiful.com/
sexta-feira, 30 de julho de 2010
pandora
É estranho não gostar, e mais estranho ainda não precisar sair à noite. Quando eu era adolescente imaginava que sempre teria vontade de estar em alguma festa, em algum bar, em alguma rua, afundado em algum copo. Beijando alguma boca. Apaixonado pelo impossível. Não entendia as pessoas dentro dos seus carros voltando cedo para as suas casas. Não entendia como aquelas pessoas de quase trinta conseguiam reprimir as vontades que eu sentia. Não entendia que as vontades não precisam ser reprimidas para que possam mudar. Ser jovem era não precisar entender o conforto do silêncio.
Hoje eu prefiro ficar atento ao ponto da batata no forno da cozinha. À quantidade de pimenta na sopa de gengibre. Ao timbre aveludado de uma canção antiga girando na vitrola. Até um disco do João Gilberto eu comprei. A vida doméstica é só mais um subterfúgio para aceitar-se velho. Ninguém chega aos trinta impunemente.
Crescer não é perigososo. Perigoso é envelhecer. Perigoso não é ser nostálgico. Perigoso é sentir saudade eterna.
Ontem a Cat Power bebeu chá durante todo o show. Ontem não foi perigoso envelhecer. Talvez não seja nunca mais. Pensei na Fram e na Tuane. E senti saudade de ser bonito".
Ismael Caneppele
quinta-feira, 27 de maio de 2010
sábado, 27 de março de 2010
ou isso ou aquilo
Na minha casa, talvez você encontre alguém de pernas cruzadas, fumando um cigarro de palha, indo dormir ao som de Brahms.
Na minha rua, aquela sonata não toca e é do porteiro o primeiro grave que escuto.
O meu mundo tem buzina de carro, gato branco, violino, computador, crianças. Tem jardineiro, contas a pagar, café, sorrisos, e por vezes é solitário.
O meu mundo é do caos e tem calma.
Que assim seja.
sábado, 13 de março de 2010
untamed
sexta-feira, 12 de março de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Um quê de desatino.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
hoje
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
a vagar
Entre ruídos e palavras árduas, minha desordem faz-se água. Mânsida, como quem já cansou de ser muitas, escorrega clara pelos afazeres, e aguarda.
Foto: Ana Paola Guerra - http://www.flickr.com/photos/23046699@N03/
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Na verdade, se não nos enfadássemos, jamais faríamos esse gesto de abnegação e de humildade que é abrir um livro. Haveríamos de nos concentrar em nossos pensamentos, supondo que valem por todos aqueles que outra pessoa pode ter. A leitura é uma vitória do enfado sobre o amor próprio.
A arte de ler, de Émile Faguet, tradução de Adriana Lisboa.
Foto: Ana Paola Guerra, http://www.flickr.com/photos/23046699@N03/