De calça rasgada e camiseta branca, João curte filme europeu, mas vez por outra não sai de casa até devorar todas as temporadas de Friends, na companhia de sacos de pipoca e edredom.
Manuelita viveu no México por toda a vida. Adepta da calça social preta e de um bom scarpin, hoje trabalha na IBM do Rio e, às sextas-feiras, diz ela, até se permite uma sandalinha rasteira para variar e emendar num divertido happy hour, bem ali na Cobal de Botafogo.
Já Dona Joana, que de casa observou a vida-a-vida de seus quatro filhos, desfila a semana de vestidos de malha – confortáveis o bastante para transitar entre os afazeres domésticos e as rodas de leitura com as amigas da época de escola. Uma vez por mês, no entanto, ela veste um elegante tailler e vai com o marido ao Teatro Municipal. Lá, assiste a sinfonias, concertos e óperas que adora.
Não dá para, em breve relance, desvendar quem quer que seja. Os rótulos que adoramos construir em torno de nossos amigos e conhecidos só nos afastam de boas surpresas e de ricas experiências de convívio. Que a moda serve para escancarar ao mundo nossa personalidade e marcar uma posição qualquer, eu até concordo. Mas também acho que ela pode mascarar uma série de complexidades que são inerentes à existência humana. Alternativos, fashionistas, hippies, clássicos têm suas especificidades, mas se olharmos com mais cuidado podemos ir além do óbvio e descobrir coisas incríveis.
Ontem mesmo vi um Emo convicto levar, de blusa branca, o cachorro para passear. Se ele pode, por que nós não?